quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Natal...


Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa, Obra Poética

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

If You Were A Sailboat...



If you were a cowboy I would trail you,
If you were a piece of wood I'd nail you to the floor.
If you were a sail boat I would sail you to the shore.
If you were a river I would swim you,
If you were a house I would live in you all my days.
If you're a preacher I'd begin to change my ways.

Sometimes I believe in fate,
But the chances we create,
Always seem to ring more true.
You took a chance on loving me,
I took a chance on loving you.

If I was in jail I know you'd spring me
If I was a telephone you'd ring me all day long
If I was in pain I know you'd sing me soothing songs.

Sometimes I believe in fate,
But the chances we create,
Always seem to ring more true.
You took a chance on loving me,
I took a chance on loving you.

If I was hungry you would feed me
If I was in darkness you would lead me to the light
If I was a book I know you'd read me every night

If you were a cowboy I would trail you,
If you were a piece of wood I'd nail you to the floor.
If you were a sail boat I would sail you to the shore.
If you were a sail boat I would sail you to the shore


Katie Melua - If You Were A Sailboat

«Haverá quem lhe chame Insensatez... Eu chamo-lhe Amor!»

terça-feira, 18 de setembro de 2007

As "comadres"


Diz o povo, talvez "escaldado", zangam-se as comadres sabem-se as verdades. Daqui se depreende que não é conveniente a proximidade nem a excessiva confiança com elas. É habitual vê-las ao fim da tarde, juntas, nas esplanadas, nos adros de igreja, nas soleiras das portas, desenferrujando as línguas e dando asas à imaginação. As "comadres" são como as cerejas, umas puxam as outras e não existem sozinhas. Pior que duas "comadres", fazendo "corte e costura" em alguém que passa , só mesmo três "comadres" competindo na novidade e na má língua. Em qualquer caso faz parte do folclore social encontrar estes seres "alinhavando" a vida de terceiros com "fio moral", tecendo "camisas de arame" a alguém que segundo elas se desnorteou. Não adianta pensar que este tipo de personagem está condenado a desaparecer devido ao viver urbano. Mesmo na cidade as "cuscas", abreviatura de coscuvilheiras, continuarão a existir e a controlar as idas e vindas do comum dos mortais.
Elas sabem tudo. Os serviços secretos deveriam ter um contacto permanente com estas agentes à paisana, esta polícia moral de saias, saberiam por certo coisas em primeira mão e aprenderiam a "nobre arte de espreitar". O problema são os constantes aumentos, as distorções, as conjecturas no vazio. Deduzir a partir de pouco é um exercício só para "profissionais " de nariz e olho apurado. A "comadre" não nasceu assim, teve de treinar muito. As "comadres" são mais poderosas e mais visíveis no meio pequeno, a aldeia, a vila, a pequena cidade. Estes pequenos núcleos reúnem as melhores condições ambientais para a reprodução desta espécie. E não são necessárias grandes condições de "trabalho" para as ver felizes, desancando no seu semelhante, "metendo água" quando nem tudo se viu ou se soube. As "comadres" não fazem jornalismo, nem ciência, quando não sabem inventam.
As suas críticas, o seu escárnio e maldizer são feitos em círculos pequenos, sempre condimentados com cobardia e uma pitada de hipocrisia. Depois servido à mesa do chá com as amigas e passado de boca em boca em forma de "bolinho" envenenado. È esta a sina de quem nada mais tem que fazer. A sua existência é de um tédio absoluto, passam a vida aquecendo ao sol e fazendo "tricot" na vida alheia. Língua afiada e mão na malha, eis o lema de quem tece histórias que não assina por baixo. Alguém que passa ou alguém de quem se lembram, são motivos suficientes para pôr a cabeça, de dois tempos, a funcionar. E depois é mais fácil viver a vida dos outros que saber lidar com o que se passa lá em casa. E uma "comadre" que se preze sabe dissimular as verdadeiras amarguras que lhe corroem a alma. Com o mal alheio posso eu bem, diz com ar de gente sábia.

(Texto original de Carlos Adaixo in http://www.freipedro.pt/tb/130700/opin1.htm)


Qualquer semelhança com virtualidades não é certamente coincidência.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Estou cansado


Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.


Álvaro de Campos

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Súplica


Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.


Miguel Torga

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

These Are The Days Of Our Lives



Sometimes I get to feelin'
I was back in the old days - long ago
When we were kids, when we were young
Things seemed so perfect - you know ?
The days were endless, we were crazy - we were young
The sun was always shinin' - we just lived for fun
Sometimes it seems like lately - I just don't know
The rest of my life's been - just a show
Those were the days of our lives
The bad things in life were so few
Those days are all gone now but one thing is true
When I look and I find I still love you
You can't turn back the clock, you can't turn back the tide
Ain't that a shame ?
Ooh, I'd like to go back one time on a roller coaster ride
When life was just a game
No use in sitting and thinkin' on what you did
When you can lay back and enjoy it through your kids
Sometimes it seems like lately - I just don't know
Better sit back and go - with the flow
'Cos these are the days of our lives
They've flown in the swiftness of time
These days are all gone now but some things remain
When I look and I find - no change
Those were the days of our lives yeah
The bad things in life were so few
Those days are all gone now but one thing's still true
When I look and I find, I still love you
I still love you


Written by Queen. Sung by Freddie Mercury.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Profecia...



Nem me disseram ainda
para o que vim.
Se logro ou verdade
Se filho amado ou rejeitado.
mas sei
que quando cheguei
os meus olhos viram tudo
e tontos de gula ou espanto
renegaram tudo
e no meu sangue veias se abriram
noutro sangue...
A ele obedeço,
sempre,
a esse incitamento mudo.
Também sei
que hei-de perecer, exangue,
de excesso de desejar;
mas sinto
sempre,
que não posso recuar.


Fernando Namora

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Let Me Fall...



Let me fall
Let me climb
There's a moment when fear
And dreams must collide

Someone I am
Is waiting for courage
The one I want
The one I will become
Will catch me

So let me fall
If I must fall
I won't heed your warnings
I won't hear them

Let me fall
If I fall
Though the phoenix may
Or may not rise

I will dance so freely
Holding on to no one
You can hold me only
If you too will fall
Away from all these
Useless fears and chains

Someone I am
Is waiting for my courage
The one I want
The one I will become
Will catch me

So let me fall
If I must fall
I won't heed your warnings
I won't hear

Let me fall
If I fall
There's no reason
To miss this one chance
This perfect moment
Just let me fall

Josh Groban - Let Me Fall (From Cirque De Soleil)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A verdade...

Não me apetece escrever!

Claro que passo o dia a fazê-lo. Sem dúvida. Aqui porém a folha em branco tem tido o condão de me ensarilhar o pensamento em turbilhões de insanidade. Entro, sento-me, fixo o olhar no ecran e alguns (muitos) minutos depois saio sem ter tocado uma tecla que seja. Apenas o ratito se deslocou ao cantinho superior direito para verificar que ainda lá está, imperturbável e omnipresente o distico: - Terminar sessão.

Assumo com simplicidade que, a escrever, nada escreveria que despertasse interesse. Tal como assumo com naturalidade que ninguém viria ler mais umas letras mal amanhadas por um parolo armado em blogger.

Engraçada a sonoridade do termo blogger... Dito com ênfase até parece algo importante... Uma espécie de Senhor Presidente do Concelho de Administração em versão minimalista...

Sorrio à ideia, ao som e perco-me por aí. Por um recanto qualquer que um dia gostaria de colocar em letras neste ou outro fundo... Faz-me feliz ver as letras cabriolando no papel, ainda que hipoteticamente virtual como este, organizando-se como petizes em fila para saltar ao eixo...

Não digo mais baboseiras. Aquele senhor que ali está sentado acaba de me reduzir à minha condição de reles demente ao afirmar alto e bom som: - Este blogger droga-se com pica de oregãos e coentros! Dá na veia à força toda! Só pode! Felicidade nas letras? Chiça! O mundo está mesmo do avesso! Internem-no!

E tem razão. O sacana do mundo está cada vez mais do avesso e eu com ele. Esta costela solidária vai acabar por dar cabo de mim mais cedo ou mais tarde. Também, se não for ela será o malte... Objecto de estudo, análise e cumplicidade esse néctar dos deuses obriga-me a todo o tipo de manifestações de solidariedade com os seus produtores nas mais diversas origens, tipos e sabores... Louvado seja o Malte!

O ratito começa a deslocar-se em direcção à saída. Acompanho o movimento com o olhar mas não o impeço de atingir o seu objectivo.

A verdade é que não me apetece escrever!

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Ama-me por amor do Amor...

SONNET XIV

If thou must love me, let it be for nought
Except for love's sake only. Do not say
«I love her for her smile... her look... her way
Of speaking gently,... for a trick of thought

That falls in well with mine, and certes brought
A sense of pleasant ease on such a day» —
For these things in themselves, Belovèd, may
Be changed, or change for thee, — and love, so
[wrought,

May be unwrought so. Neither love me for
Thine own dear pity's wiping my cheeks dry, —
A creature might forget to weep, who bore

Thy comfort long, and lose thy love thereby!
But love me for love's sake, that evermore
Thou may'st love on, through love's eternity.

by Elizabeth Barrett Browning
http://www.readbookonline.net/readOnLine/2492/

É simples.

Apeteceu partilhar.

E, já agora, facilito a vida aos mais cansados...


SONETO XIV
Trad:. Manuel Bandeira

Ama-me por amor do amor somente
Não digas: «Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh'alma em comunhão constantemente
Com a sua.» Porque pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.

Excelente fim de semana!

terça-feira, 24 de julho de 2007

Simples...

Porém, quanto mais simples, maior a complicação.
Ninguém acredita que possa ser tão simplesmente simples. E assim sendo, inventam e rodopiam sobre o assunto em espirais de loucura e insanidade...
A conclusão chega quase sempre atrasada e de rompante:

- Que estupidez! Era tão simples!